terça-feira, 18 de junho de 2013

Um Fenício já nasceu com todos os ventos


A custa de que dor minhas palavras machucassem como
Um solo lascado de Hendrix,
A custa de que tarde deflagrada de solar impudicícia, 
Minhas palavras rasgassem-se terremotas,
Em troca de que pier estourado de lua.

Flutuam como uma borboleta violeta
Ou a fenícia púrpura dos sonhos e dos comércio das rotas,
Nuvens de passagem e os olhos da amada brilhados de cedros,
Para sorrir no mar mais difícil:
Ser chamado de louco pelos corajosos,
Imprudente pelos razoáveis.

Inclementes, os astros conjuram para a rota dos desassossegados
E juro, puro mar e mar, que a proa traz-te ânforas
Com óleo e mel e pistaches
Pelas cristas das ondas formadas em jóias de corais marujos
E pérolas encaracoladas,
E o tempo do mar é tão outro,
Tão antepassado.

Trago-te o alfabeto, as rotas marítimas lidas nas cartas celestes,
Tantas conchas pisadas
Merlins devolvidos ao mar
Dialetos misturados e gestos nos mercados de trocas
Naus nuas contra as ondas como gigantes de pétalas.

Trago-te mouras de pele de algas e carmim para a troca:
 – “Seu lar vindouro mais belo …
A moura quer amar seu homem e esse homem,
Acaso, poderia ser você!”

E o mar sabe acariciar os homens de jornadas
E encontrar nos alvos fáceis de suas próprias injúrias
Convencendo os cascos das embarcações
Que dele são mais furiosos os amores e dores.

O mar é sempre o primeiro a chegar …

E amar de verdade é só para quem já perdeu.
E cultivar de verdade é só para quem já naufragou.
E a religião é o mar batido e violento
Fazendo do vento os olhos em velocidade
Em que os grandes encontram desapego na aventura
Livrando-se das roupas da circunstância para serem 
Verdadeiros e unos
Para chegar novamente à terra com as pernas bambas de tormentas
Sorrir o novo crepúsculo sangrento 
Que caminha todos os pavimentos de luz até que cheguem 
As estrelas ...
E meu coração tem cheiro de chuva que vem,
Apoiando-se na lua bumerangue que traça o pátio,
Seus canteiros, 
A repentina alfazema,
Rebenta o mar na desordem da costa.

E para navegar tem que se fazer delgado
A custa de mercadejar ao quatro ventos,
Beijando, amada, a morena com olhar sujo de prata
Repousando nela um pouco da inquietação,
Que para tecer o menino,
O homem inabitável trama às suas, as pernas da mulher;
E nesse bailado é que caminha o mar pelo mundo,
Abrindo-se em portas e castigos
Defumando areias com sua salmoura
Tramando o diamante líquido das águas-vivas
Berilando as linhas das costas contra a vegetação
Perpétuo ir e vir para que o homem saiba-se apenas breve suspiro.

O mar é sempre o primeiro a chegar.
As rotas estão escritas há muito.
As constelações sempre.
A mulher que me ficou na distância dos mares ensinou-me 
Os olhos tristes e fortes.

Um Fenício já nasceu com todos os ventos.

13/jun/2013

A. Nassaralla


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