quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Breve convocação pela eliminação do dinheiro

Imagem: Web



BREVE CONVOCAÇÃO PELA ELIMINAÇÃO DO DINHEIRO


Alvaro Nassaralla
25/ago/15

 
Olho para os tetos esbranquiçados de amarelo
e a tarde, as coisas, o mundo
caminham paralelos
num universo caótico de calma.

A eternidade trava sentido
na mentira que é o capital.

Só o amor está em todas as sementes
suficientes para tratar a covardia
e o despropósito do lucro sem fim.

Proponho agora e em alto e bom tom
a abolição do sistema financeiro:
sejamos de cavar a matrix
em sua essência
e indecência
e buscar que não mais existam escravos em nós.

Só pelo exemplo,
as veredas que calham na afluência dos rios maiores
provam que tudo é invenção
aceita para acelerar o preço do espírito

Quanto a mim, estou.
As folhas secas do inverno desmancham-se em promissão,
trabalham para a terra e para o futuro.

O sol é tão limpo.
Parece mentira
as montanhas vestidas num manto cor de fumaça amarela.

No fim do horizonte
rasgo o sândalo carregado de solidão
ocre, doce e cheiro de terra quente.

– Veja: as orquídeas 'chuva de ouro' são sempre espalmadas:
estão prontas.

Lembro-me do garoto que caminhava olhando para o céu
no único caminho que leva para algum lugar
e aquele garoto era anúncio da mudança,
prometido em tardes fugitivas desdobradas
pelas cirandas e beijos de girassóis.

De mãos dadas,
as infâncias deveriam estar em órbita
vigiando massacres e o poder da ganância,
porque o amor é antônimo de escassez.

Entendo agora quanto e como cintilantes somos
e que existe uma luz
para que expulsemos
os rastros do capital:
é só deixarmos todos de acreditar nele!

O poder está conosco.
O sonho é o mais abundante recurso.

O verdadeiro dinheiro é o que não pode comprar.
As apostas estão abertas
e é o sol quem nos espera.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Vida Bandida


Bernardo Vilhena / Foto: Isabela Kassow




Existe um poeta contemporâneo que é muitas vezes esquecido quando se lista os mais consagrados poetas em atividade: Bernardo Vilhena. 


Letrista de vários dos sucessos gravados pelo roqueiro Lobão, como por exemplo 'Vida Bandida', 'Canos Silenciosos', 'Revanche', 'O Rock Errou', 'Vida Louca Vida', 'Chorando no Campo', Vilhena postou anteontem uma bronca.

Ele se refere a alteração da letra de Vida Bandida que Lobão está usando em seus shows recentes. O músico trocou o refrão que diz Vida bandida para Dilma bandida.

Vilhena disse:

O poema Vida Bandida foi escrito em 1975 e virou canção em 1987. Recentemente, fui alertado sobre uma versão canhestra, machista e covarde que o roqueiro Lobão vem cantando em seus shows, com a intenção de humilhar a presidente da república.

Antes do link para a reclamação completa do poeta, vou deixar o poema Vida Bandida, que é um exemplo do que somente os poetas com culhões podem fazer: 



Chutou a cara do cara caído,
Traiu seu melhor amigo
Bateu, corrente, soco inglês e canivete
E o jornal não para de mandar
Elogios na primeira página

Sangue e porrada na madrugada

Vida bandida

É preciso viver malandro
Assim não dá pra se segurar
A cana tá brava
A vida tá dura
Mas um tiro só não vai me derrubar

Vida bandida

Correr com lágrima nos olhos
Não é definitivamente pra qualquer um
Mas o riso corre fácil
Quando a grana corre solta

É preciso ver o sorriso da mina
Na subida da barra
Aí é só de brincadeira
Ainda não inventaram dinheiro
Que eu não pudesse ganhar



Vou deixar ainda, outro belíssimo poema de Vilhena:


ATUALIDADES ATLÂNTICAS

é preciso viver
atualidades
reconhecer códigos
revirar noites
ser todas as raças
todas as épocas
entrar em todas
as barras
e não sujar
em nenhuma
falando o que querendo
ouvindo o que não querendo
perseguindo a realidade
e a fantasia aí

poesia é momento
em que a gente se encontra
sendo
não por dom
pelo entorpecente trabalho
de pensar no tempo
nos contemporâneos
obstinadamente
feito um tubarão



E, finalmente, o link para o desabafo completo do poeta: 


Ex-parceiro de Lobão em “Vida Bandida” diz que cantor vive “decadência patética”.




Dica do blog Tardes Poemas: 
 
VIDA BANDIDA E OUTRAS VIDAS
Bernardo Vilhena
Azougue Editorial

 

Reunião de poemas publicados na década 

de 1970 com produções mais recentes.

 


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

PEDAGOGIA DA DOR