terça-feira, 28 de junho de 2016

Inocentes de tudo - Ruben O.


Pesquisando na web encontrei esse maravilhoso poema em inglês intitulado Innocents of All do poeta Ruben O. Prosseguindo a pesquisa não consegui descobrir nada sobre o poeta mas fiz a versão para o português.

Imagem espalhada por cartazes nos Estados unidos com a sinistra figura do Tio Sam convocando jovens para o alistamento nas forças armadas.
 


INOCENTES DE TUDO
(por  Ruben O.)
Versão em português: Alvaro Nassaralla

Vamos retroceder décadas ao sol
secando a cola dos posters 
—  o dedo comprido apontando para nós —

chamando: 'nós queremos você'
quando as guerras começavam em línguas guturais e
com seus embustes costumeiros. Parece

que temos confiado por tanto tempo em posters
mesmo os via antenas, e agora em pixels. 
Nós-queremos-vocês no ritual circular, 

um esquema de desculpas seminuas
maximizando                          o medo:
cordas puxadas para transtornar fantoches

que correm para socar adesivos em para-choques
fantoches que, com a mão sobre o coração, agitam pompons ou bandeiras;
inocentes de tudo. 

Nós lhes garantimos palmas
enquanto engolimos quimeras borradas, abismos oportunos
palavras abstratas circulando acima de nossas mentes

em continência. Deitamo-nos
sobre mentiras concêntricas,
esticamos as pernas, fingimos liberdade, e vivemos o mesmo dia

duas vezes.
Dentro de nós, presas em nossas carnes,
guerras implantadas se estendem, pulsam, marcham 

sobre o sal, para a areia, para o bem 
do nosso fetiche asiático. Quantas sequências e capítulos ?  
Aquelas máscaras que usávamos não eram nossas.

Eu acho que vi uma freira grávida — em seu hábito 
a nos exortar 
como eleitores, contribuintes, heróis ... Não importa 

que o nosso lado o tenha sido escolhido para nós.
Acima do solo, somente conseguimos pertencer ao debaixo. Dissimuladas 
sob o nosso apoio acrítico,

guerras manufaturadas,
em mesas – por trás delas - ciclicamente reinventadas.
Unocal, Enron, guerras da construtora petrolífera Halliburton. 

Eu não me sinto menos aterrorizado.
Quem se sentiria? Você se sentiria? 
Limitados pela distância de um lugar afastado

sujeição sobre sujeição pelo ressoar crônico
da transmissão ao vivo. Filhos retornam como heróis
em caixões de cortesia – tão cruel

quanto o petróleo cru possa parecer - retornam suas partes e 
do que nunca fizeram parte. Ou divididos em duas metades, 
perdidos no meio de algum lugar, desejando ser resgatados – de algum

jeito. Caminhe comigo
mesmo que nos enredemos em cordas e listras.
Vamos caminhar olhando direto – para algum dia.