quinta-feira, 8 de novembro de 2018

kalashnikov (Bruno Sanctus)

kalashnikov (Bruno Sanctus)


nunca conheci um deus que não fosse uma ak-47 carregada,
cujo coração desértico
ecoa a solidão dos cânions.
seu choro, sua língua
pólvora queimada sobre
o lodaçal da fome de mariana.
negligente quanto a própria fé
e de razões obtusas.
sustentado por jargões.
tarô de velha cega
que perdeu o tato.
prece de benzedeira muda
e com alzheimer.
chauvinista para acolá do miserê
pós paraíso,
onde os edifícios fálicos
arranham o céu da boca.
orgulhoso demais para
sacrificar seu cavalo de tróia,
sua moeda sem face,
seu quinhão de guerra;
pois sabe que o ódio
catequiza melhor que a inquisição
espanhola
e os crucifixos apresentam-se
como interface amigável.
como uma proposta faustiana
do qual não consigo rir.
seus beijos são mais insossos
que os votos de sogra.