terça-feira, 24 de janeiro de 2017

FILHAS (OS) DE PORRA NENHUMA


Por: Edu Planchêz

Apago todas as minhas palavras com palavras,
já que não paro de falar,
que a tagarelice se opõe ao meu silenciar,
e é entre as palavras que encontro silêncio,
que abro um novo portal,
estou a empurrar a emperrada porta da existência,
The Doors 1967 rasgando os nenhum motivos
para manter vivo em mim o último passado
de paixões complexas,
Jim Morrison grita, eu grito,
grita Diego El Khouri e Alvaro Nassaralla,
grita Tiça Matta, grita Catarina Crystal Blues,
grita Rosa Maria Kapila
e todos os outros filhos da argila

Nascidos no barro, na borra,
na mancha alucinada William Burroughs,
nascidos e morridos,
em decomposição composição cósmica humana

Viemos da fumaça da mais deliciosa maconha,
agarrados no rabicho, no filete da lâmpada,
ou mesmo das catapultas das paredes
do cérebro metáfora Renato Russo...
e o Doors segue solto
pelas flanelas orientais
que nos acaricia
o sexo e os ouvidos

Mas voltando a tagarelice,
e o silêncio estrondo ejaculado por ela,
voltando ao pináculo da alta floresta do darma
de nada fazer sentados nus no muro das herdades

Pelos meandros dos esmiuçados olhos
que nos unem ao porrete, a porra,
ao dramático e arrombante rock sem pai nem mãe

E foda-se essa civilização eunuca
gestada pela gosma televisiva;
que todos se dopem com essas palavras

arrombadas filhas de porra nenhuma