segunda-feira, 17 de junho de 2013

Lua Levante


Redonda quando pariu-se à leste
Desabrochada de pétala e pústula em chama
Maruja às altas marés:
Meu lugar é onde estou
Quando a costa toda em prata sorri ultrajada,
Prostrada.

À leste, sangue verte quando irrompe.
Dá a certeza da cascata de raios pratas, 
vestida de nudez, calçada de liberdade.
Põe os pés nos beijos irremediáveis com que o silêncio
Sideral esmaga-se de transparência.
É dama nova para os homens-multidão,
Açafrão para os textos corridos na areia,
Vinho branco para o fogo das ruas erradas,
Amor para o infiel nos lençóis mais passageiros,
Fagulha para o compromisso ritmo do suor
Canto para o jasmim cheiro de madeira e pele ofício:
Conhece os homens e seus desatinos.

Cheia e prata para ser quem é,
Leito celeste dos amores de partida,
Do silêncio com que as folhas são o coração nesse outono,
Na guerrilha-existência,
No líquido que se atreve escorrer de nome poesia,
No insulto que é nosso em manter a claridade em um mundo
Farsante,
Na culpa da lua, fogo, frio, fugidia,
Primeira à leste,
Ser a cor do crepúsculo,
Ser o sinal para a nau perdida nas ondas,
Ser o que arde, o que constela, o que arrepia
O que destrona , o que descabela,
O que conhece o que vai ainda ser conhecido,
O que irrompe das bestas de carga modernas que nós,
O que desatraca, o que rebenta paredes, o que goteira
O que florido para a criança,
O que propaga e realmente importa,
O que deslumbra-se orvalhado,
O que insurge em nossos peitos,
O que restaura a verdade:

Do que se esquecem os poderosos,
Do que voa nos vagabundos,
Do que luz na pracinha deserta-nua,
Do que consubstanciante dos realmente eleitos de pureza,
Dos que palavram o palavrão que é ser livre,
Dos que amedrontam o poder com os olhos faiscantes,
Dos que promulgam a direção nova dos frutos outoneiros,
Dos que nada prometem e derrubam reis,
Dos que navegam águas incendiárias e beijam o estio com a língua das auroras,
Dos que penetram por entre as rachaduras com o silêncio guerrilheiro,
Dos que perguntam o que não deveria ser perguntado,
Dos que semeiam a abóbada da tarde morna com a matéria do brilho e da bromélia,
Dos que oxidam o que já mais do que oxidado,
Dos que sapateiam sobre o mar da meia-verdade,
Dos que golpeiam as raízes e arrancam o prego da exploração,
Dos que hemisférios da loucura aprontam existência,
Dos que voz dos excluídos, sem pátria, párias, poetas
Cuspidos na força do capital, dos rasgados,
Dos com frio e fome e sem orgulho,
Dos ausentes, dos feridos, injustiçados, sublevados, abruptos, papoulas,
Perdidos,
Elas que fazem pista, infâmia
Dos sacudidos de vazio,
Dos pantanosos de vida marquise, mendigos ajasminados, Jesus Cristos maltrapilhos,
Dos esquecidos e desterrados, substratos, beirantes, transgressores,
Germinados, súbitos, súditos, frutos, sujos,
encarvoados com perfume longínquo que chega do mar de chuva,
os desferidos os castigados, os famintos, os de luz, os que odeiam cochichos,
os que se assumem imperfeitos,
os que ainda não comeram hoje,
para todos eles, levante.

Levante.
Culpa da lua levante,
Levante, levante lua.


Maio/2013

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