quinta-feira, 10 de julho de 2014

Cazuza era mesmo um gênio!

por Álvaro Nassaralla



Cazuza era mesmo um gênio! A frase 'Eu sou o poeta e não aprendi a amar" toca-me profundamente. Somente um poeta de estirpe maior poderia condensar em apenas um verso toda a contradição que carrega uma pessoa que veio ao mundo cheio de intensidade.

Fico pensando nas contradições e tudo me parece ser formado por elas. Estamos em um mundo louco e que provavelmente sempre foi assim.

Como pode um poeta não saber ou não ter aprendido a amar se, pelo menos, quase tudo o que faz em poesia é primeiro amar? Pode até ser o tipo de amor ora amargo ora descrente de um Fernando Pessoa, ou o amor seco e infrutífero de Drummond. Mas do que se trata no final das contas?

Essas e outras dúvidas fazem parte do cotidiano de quem lida com o sentimento poético em meio a turbulência e esforço do 'ganhar a vida'.

Em outra música, Cazuza diz que "o amor na prática é sempre ao contrário" (Ritual). Sabedoria de quem sabe sentir, e sentir com toda a intensidade e ver com a alma inteira: 'O amor na prática é sempre ao contrário'.

Como melhor explicar, e de forma penetrante e linda, que ao amor não cabe explicação, nem alguma forma de racionalização?

Só o poeta podia, ou melhor, pode isso! O poeta é a prática pura do êxtase. Ele só pode viver o que vivencia na carne, o que lhe passa na alma e o que surge como formatos de sentimentos, êxtases, dores e inconformismo.

Taí uma boa fórmula para a poesia: tentar o contrário do contrário do contrário infinitas vezes.

Muito se fala da coragem de criar. Engraçado é que é preciso coragem sim, mas acho que de uma coragem entusiasmada, alegre.

Também se fala da coragem do artista - por acaso foi a frase que acabou de ser pronunciada no filme agora na TV.

O que não consigo sentir/entender é que o poeta seja considerado como um artista. Um músico, um artista plástico, um ator, um circense e quem pratica bem a sua profissão (qualquer que ela seja), todos esses são artistas. Mas o poeta, não. No máximo, ele pode ser o anti-artista. O anti-tudo, a antítese e o pró-fuxicador. 

O poeta foi feito para fuxicar! Acho que encontrei! E por falar nisso, cito novamente Cazuza:

"... Se até o poeta fecha o livro
sente o perfume de uma flor no lixo
e fuxica,
fuxica".