CURA
Alvaro Nassaralla
20/out/15
A noite já deitou lar e a baía,
doce crespo contraluz enquanto flutua
sua cor de petróleo,
deixa saber do vento laço lambendo-me os braços.
Pego das vísceras das flores
e arranco um naco de qualquer coisa
onde os gatos cheiram em silêncio
o perfume
e aprendo
e quanto
o hoje está repleto de distrações
e números que nada dizem além do que
querem que digam as megacorporações.
Vou consertar o céu absoluto
como devoto das palavras estragadas,
e buscar nos desfiladeiros e na gargantas
o pó da alma e das estrelas candeeiras
para o desarvoro da cura:
tudo o que nos ensinaram ou ensinarão
ainda está errado ou é pouco
para quem quer ter um grande coração
Isca ao mar,
o molinete lança e puxa o lençol óleo negro,
franzido e transitivo das águas,
e numa coleção de vadiagens
as estrelas se encontram no entroncamento do tempo
as estrelas se encontram no entroncamento do tempo
que é o agora
o estar diante do impossível
quando o possível significa o mais improvável de tudo:
a vida.
Se a solidão é o vazio inteiro,
quero abraçar ventos impiedosos e livres de toda a dor,
deixando para trás apenas as marcas do ferimento seco:
a solidão também pode ser caminho do predestinado.
Agarro a cura e atracamos de socos
como se a poeira fizesse diferença
para estarmos assediados de paz,
e não vão ser as estrelas romeiras
acometidas de destinos,
as que trarão alguma resposta certa
a quem busca o que não ainda existe no mundo.
Trato de assinar contrato, isso sim,
de que um dia encontrarei a baía apaziguada
como mulher prostrada após o gozo
e sem perdões
laçar a cura de frente.
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