
Quando esse navio negreiro passar
Leonardo Rocha
Quando esse navio negreiro passar
Vamos ver quem ficará
Onde vamos morar
Senão na própria alegria
O navio é grande
O início não conhece o fim
Enquanto sua imensidão passa
Como se morasse em nosso tempo
Seremos iludidos por uma falsa liberdade
O navio anuncia aos quatro ventos
Os cativos tem seus nomes nos contratos
Proprietários de um calabouço abstrato
Fingem que sentem o ar próspero do amanhã
Quando esse infindo camburão passar
Deixará suas marcas na eternidade
Na carne magra e resistente dos homens
No sexo frágil e banalizado das mulheres
Que seja breve essa passagem
Na vertiginosa retina
E não essa eterna miragem
Enganosa, ilusória e cretina
Todo hospital tem um pouco
De navio negreiro
Todo coletivo tem um pouco
De navio negreiro
Toda delegacia tem um pouco
De navio negreiro
Esquartejando a pobreza em metades
Vendendo os pedaços
Cobrando o preço de inteiro.
Obrigado Álvaro !!
ResponderExcluirGrande Leonardo - que sua poesia potente não conheça o fim!!
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