quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Quando esse navio negreiro passar




Quando esse navio negreiro passar

Leonardo Rocha

Quando esse navio negreiro passar
Vamos ver quem ficará
Onde vamos morar
Senão na própria alegria

O navio é grande
O início não conhece o fim
Enquanto sua imensidão passa
Como se morasse em nosso tempo
Seremos iludidos por uma falsa liberdade

O navio anuncia aos quatro ventos
Os cativos tem seus nomes nos contratos
Proprietários de um calabouço abstrato
Fingem que sentem o ar próspero do amanhã

Quando esse infindo camburão passar
Deixará suas marcas na eternidade
Na carne magra e resistente dos homens
No sexo frágil e banalizado das mulheres

Que seja breve essa passagem
Na vertiginosa retina
E não essa eterna miragem
Enganosa, ilusória e cretina

Todo hospital tem um pouco
De navio negreiro
Todo coletivo tem um pouco
De navio negreiro
Toda delegacia tem um pouco
De navio negreiro
Esquartejando a pobreza em metades
Vendendo os pedaços
Cobrando o preço de inteiro.

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