quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Cais Baldio: De olho no que ninguém quer ficar

Foto: Blog Tardes Poemas

CAIS BALDIO
(Alvaro Nassaralla - 17/Nov/15)






"Você adora as folhas que caem
no lago escuro
este é o banquete do poeta
sempre
querendo
penetrar
no caroço
da verdade".

ROBERTO PIVA




Cais baldio
vida maruja
sentença sem importância.
Fluxo e refluxo
como se somente o orgasmo de cartas marcadas,
as manchetes manchadas de vícios
e as premissas promíscuas de nome vida
pudessem afugentar crianças mandonas
e elizabeths rainhas de tronos e edredons piratas.

Assim sendo, anuncio o desleixo dos poetas
aqueles que conversam a prosa do estivador, do mecânico,
dos baixios e das alcovas,
e descem aperto à chave 13 de boca e estria na prosopopeia
oficial das faxinas empurronas de caixas e sujeira
para o fundo das oficinas.

Ter-se e dar-se é o comum tornado magnífico
ao garimpar ferros-velhos
como também em busca de sentidos
e desenhos de palavras,
para surfar na descoberta de latarias
onde recortes de maçarico fazem as vezes da junção
e placas moldadas em poliuretano podem fechar a boca
e esperar contextos
mas os consertos e carregamentos não esperam,
e já estão em outra
a cada nova unção da noite que se prepara à deitar,
sendo novas rotinas as únicas que dispensam o novo!?

Então estarão muitos cagando regras de como se relacionar
numa ode direta e simples de raiva,
um prontuário de recalques e entradas sociais permitidas:
_ Os incomodados que se retirem ou
os incomodantes que se redimam?
Pergunta-se:
quem veio para incomodar, inconformar, descondicionar,
destrancafiar,
senão o poeta, os proscritos e profetas,
como Jesus
pregando contra a usura de seu próprio povo,
e as meninas da vida de lida dura
exigindo seus direitos trabalhistas?

Estarão as mocinhas de família fadadas a descobrir
que seus reinos inundam-se de chavões em primeira
instância fantasiosos,
carregados de prerrogativas fru-frus
fechados em dinastias temperamentais
de terem direitos naturais e herdados
preconcebidos diante de suas próprias intolerâncias
de familinha, familhão?

Se assim for, alguém tem de fazer o serviço sujo
de ficar chutando o ar no cais baldio,
mãos nos bolsos,
de olho no que ninguém quer ficar,
falando mentiras que são verdades bem contadas
e/ou não a verdade dos sacos de cereais deitados ao chão
pelos carregadores nos terminais de redistribuição
para o consumidor final.
Estará a verdade apenas nesses sacos
e tudo o que predisponho não passa
de solidão alimentada?
E se caso essa última sim for a verdade,
onde fica a fome em pleno século de
rede e globalização,
em plena era de tudo a um clique de distância?

Acaso essa for uma boa pergunta, afinal
caberia a resposta na pirataria engravatada,
transnacionalizada,
acionista e latimonetária?
Essa tal de minoria 1% do mundo?

Como num blues seco e doído de Freddie King
sunchine sunchine is all all you see now
do fundo da alma
but it all like cloud to me
tudo pode ficar azul num átimo
ótimo de solilóquio naveguidão
que vamos inacabados por aí,
retardatários das alegrias.
É Freddie, bate doído o lanho das cordas secas de sua guitarra,
sunchine is all you see now,
continuaremos essa cabotinagem de poetas vira-latas
atravessando rios e comendo piranhas
que
ao mesmo tempo
nos devoram
que isso sim
é tragar a fumaça da manhã chuvosa
do céu de quem caminha em periferias despatriadas
corda bamba da filosofia de botequim,
a melhor e a mais real delas.

Mas a realidade é bem maior e foi feita para ser falsificada
porque basta acreditar que as guerras são geradas para o lucro
guerras embaladas prontas para entrega
que de novo tudo começa
com crianças crescendo nas brincadeiras de praça
a roda do mundo girando sem parar
e ouve-se o som festivo delas brincando,
mães próximas
com sua missão única de enredarem-se para suas crias:
jamais entenderei um tempo onde mortes de guerra são faturas
e os negócios vão muito bem, sim senhor.

Com o serviço e as mãos sujas,
restou para nós
remoer o cais baldio, chutar o ar,
roer os ossos do pensamento
sem remissão
e sem aceitar essa realidade contrabandeada.

Você aceita o convite do cais baldio?

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