Primavera pária
sob a pilhéria mais óbvia
da chuva
caindo à cheiro marinho
pela cidade inerte,
como sob comoção de mortalhas.
Chuva que lava cavidades
crava e imprime calçamentos com gotas finas:
lambuza crianças-mendigas.
Primavera
mãe líquida das palavras.
Não faz diferença em que se sustente
a ignorância das massas,
a desembocadura das estrelas botões violetas no estio,
o cobalto coberto de persistência,
a nascente cozinhando o frio bruto dos selvagens:
pátria dos príncipes descabelados,
quando a botar no papel as linhas que subvertem,
rompem com o silêncio lucrativo.
Para que servem as funções matemáticas perpetuantes da
miséria ?
miséria ?
Para quem servem as funções matemáticas perpetuantes da
miséria,
miséria,
se nós temos o cristal último do crepúsculo descerrando
montanhas de bronze,
a capa desabotoada da primavera úmida a nos
abraçar,
abraçar,
os barcos de pesca parados como insistência do brilho
no começo do que era dia,
as levas de bromélias nos cascos e curvas da pedra,
o despertar dos frutos maduros, esperança
de aluvião,
de aluvião,
herança de ter de dizer o que tem de ser dito,
como vendaval que faz as veredas assoviarem canções de
flautas,
flautas,
nomes de santos e profetas,
luas de prata brocada,
versos que bebem justiça.
Insisto:
vou permanecer do lado de quem acorda caminhando no horizonte.
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