quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

DESPERTAR


Primavera pária 
sob a pilhéria mais óbvia
da chuva
caindo à cheiro marinho
pela cidade inerte,
como sob comoção de mortalhas.

Chuva que lava cavidades
crava e imprime calçamentos com gotas finas:
lambuza crianças-mendigas.

Primavera
mãe líquida das palavras.
Não faz diferença em que se sustente 
a ignorância das massas,
a desembocadura das estrelas botões violetas no estio,
o cobalto coberto de persistência,
a nascente cozinhando o frio bruto dos selvagens:
pátria dos príncipes descabelados,
quando a botar no papel as linhas que subvertem,
rompem com o silêncio lucrativo.

Para que servem as funções matemáticas perpetuantes da 
miséria ?
Para quem servem as funções matemáticas perpetuantes da 
miséria,
se nós temos o cristal último do crepúsculo descerrando 
montanhas de bronze,
a capa desabotoada da primavera úmida a nos 
abraçar,
os barcos de pesca parados como insistência do brilho
no começo do que era dia,
as levas de bromélias nos cascos e curvas da pedra,
o despertar dos frutos maduros, esperança 
de aluvião,
herança de ter de dizer o que tem de ser dito,
como vendaval que faz as veredas assoviarem canções de 
flautas,
nomes de santos e profetas,
luas de prata brocada,
versos que bebem justiça.

Insisto: 
vou  permanecer do lado de quem acorda caminhando no horizonte.

03/dez/13

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