Pôr-do-sol com todas as nervuras expostas
da viagem de outro dia,
de estar no mundo como viragem de astronaves
pegando o corpo fluido do verão
liberto e de partida para o coração
Fora do mapa estou e está a noite sabida de prontidões.
Virgem é quem vaga no espaço para se perder do sempre,
ser novo a cada volta que a vida dá
a cada lua que a fase derruba:
ser novo sete vezes a cada amanhecer recortado
na luz límpida das últimas estrelas.
São-me irmãs as ventanias que anunciam tempestades:
tão corro com elas carregadas na umidade,
agarrado à música de prata e ao assovio da terra perfumada,
que tenho por abraço a envolvente palha fresca
quanto de vento
um lenço macio ao carinho.
E você, amada
é quem pode para a liberdade
é quem abre para todas as loucuras que tento esconder
quando corro pela vida como um sândalo entorpecido de orvalho
evaporoso de lânguidas semi-luas nuas de estrada.
E porque vago,
vago tardes inumanas e abastecidas com o oceano das misérias,
é que posso um pouco mais me firmar com o itinerário dos perdidos.
Você, amada
um pouco que atenua a melhor solidão
que um piano-de-cauda-quebrado-poeta pode ser.
Vamos, então
correr a tarde veraneia sob o torpor dos longes,
dos litorais abastecidos de gozo
a tristeza sendo a novidade encerrada
a eternidade que se ama nos sunsets um atrás do outro
pelo mundo afora,
plantar na raiz da rosa o sorriso livre de castigos,
ser de novo o menino a correr do tamanho da seda do sol
com o tempo cabendo inteiro nos braços
e deitado na grama
feita de tapetes ornados à púrpura e esmeralda dos sonhos.
Haverá o dia em que remarei águas tranquilas
02/jan/14
A. Nassaralla
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