Outubro
no sol
vento de ressaca invade minha
camisa, botando-a a dançar
desengonçada.
Outubro vento de ressaca.
Enxergo-te primeiro como elegante
desespero,
despreparo da chuva que se foi
e o vento queimando a cidade com jasmins
frios,
oxidados de uma nova primavera.
Fino manto
supõe distâncias,
vento malhado de cheiros que procura
a areia engomada,
que a procura da mais alta alegoria do
céu:
vemos Vênus mexendo-se cintilante a
dizer
que tudo se resume na noite que inda
vem,
e a tarde passa
e eu estava apenas na beira do trilho,
e o trem passa na velocidade com que o
barulho da batida se repete
nas emendas.
Pego no seio ensaguentado do vento
e num calhamaço de mariposas trajando
poemas nos desenhos das asas
para que me palpitem esperanças
aniquiladas.
E vamos à luxúria branca e ouro
que o vento traz desabotoando fêmeas de
tantas longitudes
quantas possa o poeta amar.
E traz sementeiras e naufrágios
e ilusões gostosas de morder.
E não se vai o vento de ressaca
antes de arrancar algumas telhas e
pétalas,
tudo ao seu tempo
para anunciar um novo sol companheiro.
Mas é punhal bandoleiro no coração
sensível,
desde que o próximo passo seja não se
conformar
com as inverdades do mundo.
Posso dar meu urro de revolta ao vento,
somente mais um sedimento que ele já
carrega,
somente mais uma duna
movida de lugar.
Que seja: uma duna movida de lugar já é
alguma coisa.
Outubro, vento de ressaca.
Outubro é um trem veloz que passa e
deixa o cheiro de querosene nos trilhos.
09/out/13
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