sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Vento de ressaca

Outubro
no sol
vento de ressaca invade minha
camisa, botando-a a dançar
desengonçada.

Outubro vento de ressaca.
Enxergo-te primeiro como elegante desespero,
despreparo da chuva que se foi
e o vento queimando a cidade com jasmins frios,
oxidados de uma nova primavera.

Fino manto
supõe distâncias,
vento malhado de cheiros que procura
a areia engomada,
que a procura da mais alta alegoria do céu:
vemos Vênus mexendo-se cintilante a dizer
que tudo se resume na noite que inda vem,
e a tarde passa
e eu estava apenas na beira do trilho,
e o trem passa na velocidade com que o barulho da batida se repete
nas emendas.

Pego no seio ensaguentado do vento
e num calhamaço de mariposas trajando poemas nos desenhos das asas
para que me palpitem esperanças aniquiladas.
E vamos à luxúria branca e ouro
que o vento traz desabotoando fêmeas de tantas longitudes
quantas possa o poeta amar.
E traz sementeiras e naufrágios
e ilusões gostosas de morder.
E não se vai o vento de ressaca
antes de arrancar algumas telhas e pétalas,
tudo ao seu tempo
para anunciar um novo sol companheiro.

Mas é punhal bandoleiro no coração
sensível,
desde que o próximo passo seja não se conformar
com as inverdades do mundo.
Posso dar meu urro de revolta ao vento,
somente mais um sedimento que ele já carrega,
somente mais uma duna movida de lugar.                                                                 

Que seja: uma duna movida de lugar já é alguma coisa.

Outubro, vento de ressaca.

Outubro é um trem veloz que passa e
deixa o cheiro de querosene nos trilhos.


09/out/13

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