sábado, 7 de setembro de 2013

Breve balada para o dono do mundo (ou para a minoria dona do mundo)



Sou poeta.
O máximo que posso fazer
é te causar um pequeno desconforto.
Mas se eu começar a incomodar
você paga para me difamar ou me matar.

Sou poeta
e você é o dono do mundo.
Sou poeta.
Sou nada para você.

É você quem me empurra sua cultura goela abaixo.
É você quem me empurra suas notícias todos os dias.
É você quem fabrica guerras para vender morte.

Sou apenas um poeta,
fabricador de ideias, palavras e sonhos e outonos flamejantes.
Para você, sou nada.
Poeta é o perdedor que foge da vida, foge da luta, não é mesmo?

Mas da sua luta,
que oprime e bombardeia um povo,
isso mesmo, vulnerável
e cheio de vida, um povo que merece
ser explodido só por que vive em cima de petróleo,
nessa luta, o poeta de verdade,
vai apenas usar a palavra,
sua mais vigorosa arma,
palavra que também pode fazer
sangrar,
palavra-espadachim,
palavra-AK 47,
palavra-resistência
que o poeta usa para te apontar:
– Covarde, mercenário,
você é o dono do mundo …

Álvaro Nassaralla /2011

4 comentários:

  1. Obrigado e salam para você, Samira!

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  2. Gosto da metalinguística do poeta que escreve sobre seu ser. Nos perguntam, pra que poesia? Como se tivéssemos que justificar tamanha inutilidade. um abraço

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  3. Direi que o poeta é um inútil que aponta para o que a maioria não vê ou não quer ver. Seria isso inutilidade? Um abração, Luiz Otávio!

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