quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Wall Street e a servidão moderna

Pronunciando cais
vai a tarde morrendo
e vou nunca mais para casa
dirigindo por uma estrada estranha de mar e blue
de gris, salmos e pupilas.

Ipês roxos e amarelos brotam no acostamento
assustadores como luas enormes
aparecendo por trás dos relevos.

Nessa estrada,
com os olhos bem abertos e colados à fita do horizonte,
um dia vi a escravidão a que estamos expostos
as cortinas que escondem o entardecer gratuito
a assiduidade com que a verdade é comprada.

Pronunciando cais
o que ainda resta de tarde
de perfume a quem quer orvalho
laminando fugas para os lábios,
continuo a procurar saídas
mesmo que as palavras e as imagens
que,
pasmem,
pagamos para ler,
tentem nos desmentir.

Vamos.
Os umbrais da tarde estão desfalecidos:
lentamente escoram a noite e,
aos poucos,
colocam em dia a conversa madrepérola das estrelas.
Convém calar-se na furtiva hora do cais.

Queria poder dizer
que me perco numa estrada reta
para que outros possam se encontrar;
mas qual,
continuamos todos amordaçados por lenços
de liberdade falsificada,
de dinheiro retido como água podre, estagnada
dinheiro comprando dinheiro,
a cirandinha volátil das prateleiras de Wall Street nos gritando
nos xingando
e
nós
rindo para elas,
maravilhados com suas adagas anestesiadas.

Em tempo,
tudo
um dia se cala
para renascer desbocado,
dando novos e reais nomes às coisas
partilhando íris
as ramagens escorregando altivas nos altiplanos continentais
os poetas contrariando como sempre,
as crianças sentenciando,
a lua querendo,
abrindo-se irmanada de solidões.

Mesmo dizendo o que me vai no coração
quero ver o dia em que o papel-dinheiro será uma rosa,
ou arranjo de trigo perdigueiro
ou coleção de brotadas em flor.

Aviso:
vou nunca mais para casa.
Pelo menos,
enquanto não encontrar uma saída.

04/set/13

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