Alvaro Nassaralla (26/04/16)
Flor de dormir
estou sonhando novamente.
Meu coração dói como um dente doce latejando;
estrelas de portas abertas saindo do mar,
mantra luz dos poetas,
patetas: que eles sabem enxergar
o foco do tamanho do tormento e da esperança;
não se envergonham de sujar a cara nas calçadas
e criar, das rosas, o alucinante trovão da ideia;
deliberam sobre árvores, pôres-do-sol,
luar na estrada enrugada bem nas áreas
de frenagem dos caminhões,
porque o poeta, patético
está nesses flashs
para ser o dono - que seja - de pelo menos instantes,
madrugada a toda na estrada,
descola-se a alma como num orgasmo.
A velocidade é toda minha como uma vagina sugadora;
adentro novas dimensões
com medo de gostar da realidade,
mas a real está muito além do que sabemos;
ou supomos.
Na velocidade
não encontrei amor:
abocanhei, selvagem, o sexo
e vivi a turbulência contínua do vento vazado.
Estou sonhando novamente,
aquela sensação de estive aqui em outra vida,
ou estou aqui e sou outra pessoa,
portador da velocidade sólida como um vício,
ou uma máquina de flíper
dando-nos mais uma chance de perder*,
ou sou o eu que não me vi
nas penas de falcão peregrino
renascendo finalmente no dorso.
Estou a salvo novamente
e é estranho o quão novos poderíamos morrer
e quantas vezes fomos salvos.
Estou sonhando
libélula flutuando cascatas,
novamente sonhando quantas vidas tive e tenho.
---
*
Expressão proferido pelo veterano do Vietnã ao tomar uma dura da políciaquando jogava fliperama no filme "O Substituto" (Stunt Man) - 1981 - Direção: Richard Rush.
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