A. Nassaralla
(02/maio/15)
Lua queda-se vermelha e rouca
para lá da madrugada,
chupada para o buraco d'oeste
que a quer sedenta e rogada
nas travessas polidas que servem crepons rubilados
da alvorada.
Seixos em que a noite se faz guerreira
movem-se nos ladrilhos celestes,
descendo proveito às partidas,
como corações abissais que se provam
alcateias e uivos,
transpirando halos no terreno móvel
das prateleiras lácteas
que nunca tiveram menos que o desejo,
e se extinguiram no dorso do tempo
quando o tempo jamais existira.
Rogo ao que me pousa ao peito,
eu, absinto embarcado de estrelas
e entranhas do amor:
acerca do abandono, conheço bem – lorde
deserdado, desacompanhante,
volátil: nada ser por nada trocar.
Atrevo-me a dizer que a madrugada suada,
traficando espasmos dos orgasmos,
costuras esfaceladas às tramas estreladas,
seria o mesmo que fazer vencer promissórias
de amores não cumpridos,
das castidades e da estranheza por onde correm,
cavam e se encontram corações prometidos
nas tranças em que o destino escreve,
sorriso curto de quem já tudo sabia
muito antes dos Tempos.
Dito à galope,
rodopiam as últimas estrelas num bailado
escarnecido e os senhores da inquisição
ordenam pela incineração da madrugada.
O escrivão das portas alvoradas
anota a lua vermelha,
mandando-a às mandíbulas jovens e famintas,
sem deixar de sugerir:
_ Para quê tanto estrebuchar, poeta, se tudo é somente
mais uma manhã a chegar?
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