segunda-feira, 4 de maio de 2015

Para amanhecer

 
A. Nassaralla 
(02/maio/15)
 
Lua queda-se vermelha e rouca
para lá da madrugada,
chupada para o buraco d'oeste
que a quer sedenta e rogada
nas travessas polidas que servem crepons rubilados 
da alvorada.

Seixos em que a noite se faz guerreira
movem-se nos ladrilhos celestes,
descendo proveito às partidas,
como corações abissais que se provam
alcateias e uivos,
transpirando halos no terreno móvel 
das prateleiras lácteas
que nunca tiveram menos que o desejo, 
e se extinguiram no dorso do tempo
quando o tempo jamais existira.

Rogo ao que me pousa ao peito,
eu, absinto embarcado de estrelas
e entranhas do amor:
acerca do abandono, conheço bem  lorde 
deserdado, desacompanhante, 
volátil: nada ser por nada trocar.

Atrevo-me a dizer que a madrugada suada,
traficando espasmos dos orgasmos,
costuras esfaceladas às tramas estreladas,
seria o mesmo que fazer vencer promissórias
de amores não cumpridos,
das castidades e da estranheza por onde correm,
cavam e se encontram corações prometidos
nas tranças em que o destino escreve,
sorriso curto de quem já tudo sabia 
muito antes dos Tempos.

Dito à galope,
rodopiam as últimas estrelas num bailado
escarnecido e os senhores da inquisição 
ordenam pela incineração da madrugada. 
O escrivão das portas alvoradas
anota a lua vermelha,
mandando-a às mandíbulas jovens e famintas,
sem deixar de sugerir:
_ Para quê tanto estrebuchar, poeta, se tudo é somente
mais uma manhã a chegar?

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