quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Canto da Igualdade


Chega a notícia dourada do vento,
chega de ser quem já fui.
Chega o sol nas cortinas lavadas,
luz lânguida quente no frio a morder invernos translucidez,
luz paz intercedida e brocada de cristais amenos.

São cabelos e terrenos baldios em que nasce
o mato pequeno.
É ressaca batendo no peitoril do continente costeiro:
chega.
Chega de molho e sal.
Quero a sorte inteira da semente,
o gosto das colinas lavradas de matéria e silêncio.

É o que nos permitem garrafas trazidas
pelo mar,
O destino do bronze doce no horizonte
contra o azul-roxo da entrante:
maré subindo em forma de cadeiras alinhavadas que avançam.
Vamos parar por aqui.

Somos estranhos trazendo o planeta nas costas,
ultrajando a natureza passageira de nossas lágrimas filhas.
Vamos transmutar por aqui.

Chega a notícia dourada do vento.
Onde estão os famintos por agora?
Onde estão as perguntas sem respostas retidas em segredo pelos poderosos?
Onde está o leito para beijar o peito e costas dos sem teto?
Onde está o corte para abençoar os deformados?
Onde está a cólera para amenizar a santa crua fome?
Onde estão enterrados os diamantes da escassez fabricada,
produto usurário de quem muito tem
e nada e nunca pode parar de satisfazê-lo?

Vamos parar por aqui.
A promessa é cristalina para quem quer ver.
A promessa era a de todos com as chances mesmas.
O sangue dos jasmins era penetrar o golpe digno nos tronos
dos reais governantes, homens-capital
que põem e tiram seus fantoches dos palácios,
ricos esganadores da promessa
em suas altas colmeias de janelas sempre fechadas.
São eles que compram o inverno.
São eles que na cobiça de se perpetuarem,
replicam bens e esperanças faturadas e uníssonas,
cirandas capital, aprendendo e reaprendendo
a construir e destruir mercados em questão de segundos.
Sim, são nuvens as que eles entendem,
nuvens duras, estéreis
validadas em mentiras esquecidas,
reiteradas em verdades repentinas,
oportunizadas nas distâncias feridas e não curadas.

Vamos ficar por aqui.
A força da espada não combate a da palavra.
As tramas e as fechaduras mais difusas não subjugam
o galope do vento.
Chega.
Chega a notícia dourada do vento,
o crepúsculo em tombo de rosas
o líquido da esperança intransigente.

Se você me cavar em cicuta,
sempre haverá outro e outro e outro.
A agricultura já está perpetrada por mais que você
escamoteie-se em formas e títulos, amalgame-se.

Vamos ficar por aqui:
seu jogo tem cartas marcadas.
Você sempre ganha.
Mas resta uma pergunta: até quando?
Chega a notícia dourada do vento.

29/jul/13
Álvaro Nassaralla


2 comentários:

  1. Álvaro

    Este poema me remete a uma notícia que denuncia um continente desconhecido. Mais igualdade também significa mais realidade.
    Acusaram o poeta de ser um fingidor, verdade mais banal.
    Mas ninguém reconhece quando este encontra estas e tantas outras notícias urgentes. Bom, eu reconheço, mas valerá a opinião de mais um poeta vagabundo?
    Forte abraço

    ResponderExcluir
  2. Luiz Otávio,

    Vale a pena tentar. A palavra é uma arma muito eficaz para lutar por um mundo mais justo e mais belo! A palavra bem colocada pode mover mundos! Pelo menos, acredito nisso.

    Um Forte Abraço

    ResponderExcluir