quinta-feira, 11 de julho de 2013

Azimute

Para meu avô Jorge (Jurja) Nassaralla

O poeta é aquele quem engoliu a lua mascateira;
tem as tardes mas há de vagar,
beija como as rochas arrebentadas de mar
no desespero calado de estar ali, quebra-mar
antecipando a sorte eterna de ser ancoradouro para o mar,
ser ferrugem verde e vertigem dos amadores.

A esperança – herança e prelúdio,
está no castanho negro de seus olhos
que vêm para abençoar a palavra ametista,
esperança que bate forte como meu coração
de passarinho novo.

Vou ser na palavra aberta
no céu rebatido de vermelho invertido,
crispado como um mar às avessas
iluminando as pontas de suas ondas
com o rubor das semi-virgens estrelas ainda por querer o desejo,
ainda sem se saber tremeluzidas em sua saga constelada:
E por que não?

Sou o mascate vagando pelo mundo
que veio te vender a aurora com cores e dores,
alma deflor, perfume de lua gazela para os homens sedentos:
só o poeta e o mascate podem encarar a descarada tarde pela frente,
a profissão descoberta para a liberdade de fazer seu caminho,
serem os gigantes da solidão,
tão fácil como o futuro se mostra numa confusão de destinos sem importância,
e as fotos envelhecendo dentro dos cadernos,
última instância, esquecer para se lembrar do que realmente revela
a tarde e todas as suas lembranças em forma de fotogramas paralisados,
somos nós viajantes irresponsáveis de nós mesmos,
simulando êxitos perante o tempo,
sonhando o brotar dos pomares quando inverno,
as flores cheirando no crepúsculo.

Sigo a palavra aberta,
o adubo eficiente dos que tarefam caminhar,
o caminho duro quando as estradas recortadas tornam-se crochês
e tramas ao azimute;
mas, seguimos, tarde da noite
nas probabilidades lançadas mais uma vez pela roleta dos astros,
seguimos tarde das tardes, profissão
inexata do vagar,
mas assim confrontamos o que é tido por certo,
porque nós,
nós temos uma pequena mula e malas, e nas malas
temos um tesouro:
temos orvalho, flor de figueira, girassóis, lua todas as fases,
o outono descabido de si mesmo,
a noite e o deserto, o perfume das frutas, a jabuticaba negra de roxa,
as lâminas do sabor,
as línguas para serem inventadas em si mesmas,
a história para ser recontada, agora com justiça e verdade.

Pela vez, azimute
caminho e destino
só o poeta e o mascate podem encarar toda a descarada tarde pela frente.

02/jul/13



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