Para meu avô Jorge
(Jurja) Nassaralla
O poeta é
aquele quem engoliu a lua mascateira;
tem as
tardes mas há de vagar,
beija como
as rochas arrebentadas de mar
no desespero
calado de estar ali, quebra-mar
antecipando
a sorte eterna de ser ancoradouro para o mar,
ser ferrugem
verde e vertigem dos amadores.
A esperança
– herança e prelúdio,
está no
castanho negro de seus olhos
que vêm para
abençoar a palavra ametista,
esperança
que bate forte como meu coração
de
passarinho novo.
Vou ser na
palavra aberta
no céu
rebatido de vermelho invertido,
crispado
como um mar às avessas
iluminando
as pontas de suas ondas
com o rubor
das semi-virgens estrelas ainda por querer o desejo,
ainda sem se
saber tremeluzidas em sua saga constelada:
E por que
não?
Sou o
mascate vagando pelo mundo
que veio te
vender a aurora com cores e dores,
alma deflor,
perfume de lua gazela para os homens sedentos:
só o poeta e
o mascate podem encarar a descarada tarde pela frente,
a profissão
descoberta para a liberdade de fazer seu caminho,
serem os
gigantes da solidão,
tão fácil
como o futuro se mostra numa confusão de destinos sem importância,
e as fotos
envelhecendo dentro dos cadernos,
última
instância, esquecer para se lembrar do que realmente revela
a tarde e
todas as suas lembranças em forma de fotogramas paralisados,
somos nós
viajantes irresponsáveis de nós mesmos,
simulando
êxitos perante o tempo,
sonhando o
brotar dos pomares quando inverno,
as flores
cheirando no crepúsculo.
Sigo a
palavra aberta,
o adubo
eficiente dos que tarefam caminhar,
o caminho
duro quando as estradas recortadas tornam-se crochês
e tramas ao
azimute;
mas,
seguimos, tarde da noite
nas
probabilidades lançadas mais uma vez pela roleta dos astros,
seguimos
tarde das tardes, profissão
inexata do
vagar,
mas assim
confrontamos o que é tido por certo,
porque nós,
nós temos
uma pequena mula e malas, e nas malas
temos um
tesouro:
temos
orvalho, flor de figueira, girassóis, lua todas as fases,
o outono
descabido de si mesmo,
a noite e o
deserto, o perfume das frutas, a jabuticaba negra de roxa,
as lâminas
do sabor,
as línguas
para serem inventadas em si mesmas,
a história
para ser recontada, agora com justiça e verdade.
Pela vez,
azimute
caminho e
destino
só o poeta e
o mascate podem encarar toda a descarada tarde pela frente.
02/jul/13
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