quinta-feira, 18 de julho de 2013

Ao quebra-mar



Para o pier
sou seu filho mais derradeiro
fugindo da solidão na dor que a beleza espessa
das marés traz,
e levam sementes para o alto do mar
para as sereias completadas de lua,
desenhando a linha marolada e amarujada e florida
das águas de inverno.

Meu jaleco marítimo
acoberta-se de centenas escamaduras do canto poeta primal,
só para ser o pier e os gatos alimentados
e o oceano de ser ilhado em plena terra firme.

Em questão de minutos lunares
vamos sendo apagados
do mapa, as profundidades, o sal
e sou um único abalo tectônico das costas banhadas de inverno,
os corpos celestes possivelmente rindo-se de nós
e suas massas empurrando-nos uns contra os outros.

Estou de volta, pier e varas de pescar,
habitantes do direito que ninguém nos conferiu de fato.
Mar se quebra tão astronômico
tão agigantado
e o pontão atreve-se e toma de espuma salgada,
e como um centopeia hereditária,
avança ereto às ondas
quer ser terra onde já se molha meretriz,
motriz dos corações e força das marés.

Vou dizer do que sei apenas.
Do amor, não sei.
Do navegável, também.
Apenas sei a distinção do mar revolto contra as pedras
amontoadas,
da natureza estranha e superficial dos homens,
das luas alquebradas e milenares,
da foz que se liberta descoberta ao inteiro do mar,
da boca da baía como espaço transversal dos primeiros e últimos,
do cálculo improvável das emoções,
dos atracadouros transbordantes para os afogados,
motivos sedimentos e oração dos portões de mar e terra,
as amarras para os barquinhos restantes de sanidade,
a alma da embarcação flutuando à distância na linha do entardecer.

Somos a chave se formos desafixados,
somos a chave se formos o corpo das confusões,
somos o tempo se a chave for alguma espécie de liberdade e esperança,
estamos marítimos e não vou enganar:
o caminho é tão certo como mudam as ondas do mar,
como andam as dunas do deserto.

Vamos plantar girassóis no mar
brotar a única nave real, nós mesmos
sem calar o coração, único motivo para clamar aos astros
o sonho acordado
e dormir com o sono das esponjas e corais
e das bromélias cravadas na pedra vertical.

Água e osso nada são apenas que a diretriz acesa das sirenes e desesperos,
atraídos pelos quebra-mar curativo, atrevido
língua penetrando as ondas,
e elas a reclamar
esbofeteando o bolor e os talhos das pedras.
Para permanecer vivo nos degraus da deriva
tem-se de ter um bocado de imprudência,
e carregar o colar das tempestades.

A cura e a justiça são aliadas.

Sem mais,
o tufão tem sido meu único companheiro
e o pier lavado, o lastro perfeito dos astros para quem quer
avançar!


16/julho/13

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