Nelson Maca
in: Gramática da ira
Eu nunca tive sucesso em aprender sobre rios montes heróis
e datas comemorativas deles
Eu nunca serei a terra prometida e o povo escolhido - salvo
no juízo final deles
Eu nunca dominei a austera gramática, o senso de justiça,
nem as etiquetas deles
Eu não sou o sujeito das leis e das regras que ordenam a civilidade
consensual deles
Eu nunca consegui entender em que consiste o heroísmo saqueador
e homicida deles
Eu não sou a imagem do pai, do filho e do espírito, o triunfo
da terra, a novíssima era deles
Eu nunca aprendi, nem me corrompi diante das migalhas da merenda
da escola deles
Porque não assimilei o modelo de cidadania forjado com o chicote
e a palmatória deles
Cresci desconfiado fugitivo arredio quilombola marginal rebelado
maloqueiro irado mal-educado
Vejo em você o escravo beijando a mão do senhor que esfolou
nossos avós no pelourinho
Somos parentes galhos do tronco comum de um velho baobá
das savanas da África
Vejo em você o servo do sinhozinho que violentou nossa irmã
e que nos fez de moleques
Somos velhos irmãos embora o presente oculte o contorno
de nossa família destroçada
Vejo em você o dócil palhaço da mesma plateia que delirava
com nossos gemido no tronco
Somos o motivo da graça o bode o macaco o comediante
o sorridente a nega maluca
Vejo em você o pretinho cordial com o corpo na senzala
e o pensamento na casa grande
Digo o que digo e sofro com isso, Brother, mas, para tê-lo comigo
palavras falsas não vingam
---
As imagens abaixo são do poeta enrolado na bandeira da "Campanha Somos Quilombola Rio dos Macacos", fazendo referência ao Quilombo do Rio do Macaco que vem sofrendo tentativas de ser expulso de uma área 'pertencente' ao Jardim Botânico (RJ).
Fiz as fotos no Sarau que aconteceu em julho de 2015, próximo a Cinelândia (RJ).
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